Moraes arranca risada de Cid após militar revelar que fazia memes do ministro
Tenente-coronel não segurou o riso ao revelar que usava figurinhas para criticar o ministro em conversas com militares
Brasília|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes arrancou risos do tenente-coronel Mauro Cid durante o interrogatório dele nesta segunda-feira (9) após o militar dizer que o ministro era alvo de memes em reuniões internas de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Cid, as críticas a Moraes iam além dos áudios vazados e ocorriam também em encontros presenciais com militares e integrantes do círculo próximo de Bolsonaro. Ele afirmou que, apesar do tom ofensivo, as falas nunca envolveram planos de ação contra o ministro.
“Era conversa de bar, informal, em reuniões também. Tinha xingamentos, críticas, conversas… Coisas que o senhor mesmo viu bastante”, disse Cid. “Mas nunca houve nenhum tipo de organização para agir contra o senhor ou contra o Supremo. Isso nunca existiu.”
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A fala arrancou uma resposta direta do ministro: “Eu estou acostumado já”, reagiu Moraes, arrancando risos constrangidos dos presentes. Depois, o ministro perguntou a Cid o que mais falavam sobre ele.
“O senhor foi muito criticado”, itiu Cid. “Ministro, as pessoas criticavam muito o senhor. As mesmas críticas que o senhor recebe, xingamentos… Não vou dizer que não houve, porque houve. Mas nunca teve nada como ‘temos que acabar com ele’ ou ‘vamos planejar algo’. Eram xingamentos, figurinhas, memes... Coisas que o senhor já viu bastante”, completou o réu.
Interrogatório de Cid
No interrogatório ao STF, Cid confirmou que Bolsonaro recebeu, leu e modificou a chamada “minuta do golpe”, que previa a anulação das eleições de 2022 e a convocação de um novo pleito.
Segundo Cid, Bolsonaro retirou do texto original trechos que mencionavam prisão de autoridades, mas manteve ataques ao então presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
Cid também relatou que, após a derrota eleitoral, o ex-presidente era pressionado por três grupos: um conservador, um moderado e um radical — este último defendia abertamente uma ruptura institucional.
Segundo Cid, Bolsonaro acreditava que conseguiria provar uma fraude nas eleições, o que não se confirmou. Ele afirmou que o ex-presidente insistia para que os manifestantes não deixassem as ruas, apostando inicialmente em uma prova concreta de irregularidade no pleito ou, na ausência disso, em pressão popular.
Mesmo sem evidências de fraude, Bolsonaro continuou alimentando esperanças em parte da base radical. Cid reiterou que nunca houve ordem explícita de forjar provas, mas o ambiente de incerteza era constante.
Cid revelou ter recebido dinheiro vivo do general Walter Braga Netto para financiar manifestações em frente a quartéis. Ele disse acreditar que os recursos vinham do agronegócio e que serviriam apenas para mobilizações, e não para um plano mais grave, como atentados contra autoridades — hipótese levantada posteriormente pela Polícia Federal.
Também relatou que Braga Netto mantinha Bolsonaro informado, já que o então presidente se mantinha recluso após a derrota eleitoral.
Durante a audiência, Cid afirmou que o então comandante da Marinha Almir Garnier teria colocado tropas à disposição de Bolsonaro, o que gerou desconforto no Exército.
Havia pressão para trocar o comandante do Exército, Freire Gomes, por alguém mais alinhado com a possibilidade de golpe.
Cid disse que o general Estevam Theophilo, cotado para o cargo, afirmou que o Exército cumpriria uma eventual ordem de Bolsonaro — desde que viesse formalmente do presidente.
Por fim, Cid comentou os áudios vazados em que critica sua delação premiada e relata suposta pressão da Polícia Federal e do STF. Ele disse que se tratavam de desabafos pessoais feitos em um momento de fragilidade emocional, sem intenção de descredibilizar formalmente o processo de colaboração.
Afirmou também que os depoimentos dados à PF serviram apenas para confirmar informações e reconhecer envolvidos, negando que tenha sido forçado a mentir.
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