Ex-ministro da Defesa repreende advogado em interrogatório: ‘Você não combinou comigo’
Paulo Sérgio Nogueira interrompeu perguntas do próprio advogado; momento arrancou risadas até do ministro Alexandre de Moraes
Brasília|Gabriela Coelho e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira protagonizou um momento inusitado e constrangedor durante audiência no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (10), ao interromper de forma ríspida seu próprio advogado, Andrew Farias, no interrogatório da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Ao iniciar suas perguntas, Farias questionou o general sobre um encontro realizado em 14 de dezembro de 2022 com os ex-comandantes das Forças Armadas. Nogueira o interrompeu antes de o advogado terminar o questionamento.
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“Vai me perguntar sobre a reunião, cara?”, questionou o ex-ministro da Defesa. O advogado então pergunta a Nogueira sobre a posição dele acerca da decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ilegítima e se ele havia externado essa posição.
“Andrew, eu já respondi tudo isso ao nobre presidente Alexandre de Moraes”, respondeu Nogueira, apertando o braço do advogado, que ficou visivelmente constrangido. O momento arrancou risos dos demais presentes na audiência, incluindo o ministro Alexandre de Moraes.
Depois, Farias fez uma pergunta sobre redes sociais, e Nogueira de novo deu uma bronca no advogado. “Você não combinou comigo, viu? Mas tudo bem.”
O que Nogueira disse no interrogatório
Durante o interrogatório, o ex-ministro da Defesa pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes e ao TSE por declarações feitas em 2022, que classificou como inadequadas e influenciadas por sua formação militar.
Ele reconheceu que utilizou expressões equivocadas, como chamar a Comissão de Transparência Eleitoral de “para inglês ver” e usar a metáfora “linha de contato com o inimigo” ao se referir ao TSE, afirmando que jamais teve intenção de tratá-lo como adversário.
Nogueira negou que Jair Bolsonaro o tenha pressionado para alterar ou adiar o relatório técnico das Forças Armadas sobre o sistema eleitoral.
Segundo ele, a decisão de não divulgar o relatório no primeiro turno se baseou em uma recomendação técnica do coronel Wagner Oliveira, que coordenava a equipe responsável.
O ex-ministro também afirmou que não despachou o relatório com Bolsonaro, contrariando declarações do ex-presidente e de outros militares.
Diante de rumores sobre a possibilidade de ruptura institucional após a derrota de Bolsonaro nas eleições, Nogueira contou que tomou a iniciativa de reunir os comandantes das Forças Armadas para encerrar qualquer discussão sobre golpe.
Ele ressaltou que seu objetivo era preservar a coesão e disciplina militares, e que deixou claro ao então presidente que não haveria mais espaço para esse tipo de conversa. Após essa reunião, segundo ele, o tema não voltou a ser discutido.
O ex-ministro descreveu ainda o estado emocional de Bolsonaro após a derrota, dizendo que ele ficou abatido, depressivo e doente nos meses seguintes ao pleito. Essa condição preocupou seus aliados, incluindo o próprio Nogueira, que observou o ex-presidente em uma situação de fragilidade emocional.
Por fim, Nogueira comentou sobre Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, dizendo que ele tinha ampla autonomia dentro do Palácio do Planalto e agia como uma espécie de “carta-branca” na estrutura de poder. Essa liberdade era, segundo ele, reconhecida por todos no entorno da Presidência.
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